Roteiro Religioso

A Igreja, sempre tem mostrado grande apreço pela história e pelas culturas das comunidades humanas, ciente de que representam uma preciosa herança da humanidade.
O património da Igreja é constituído pelos bens e valores materiais ou imateriais, tangíveis ou intangíveis, nos quais se consubstância um legado precioso da comunidade de salvação que é a Igreja Católica.

Posto ao serviço da missão desta, o património eclesiástico é muito mais que um simples objecto de exercício do direito de propriedade. Representa um instrumento necessário, mesmo indispensável, ao exercício da sua missão.
Neste sentido, o património religioso da nossa cidade de Valongo, contém em si próprio um valor artístico inseparável de uma convicção de fé, tem uma imprescindível função de culto. Com efeito, o culto e a oração constituem a essência do fenómeno religioso e, se têm dimensões pessoais e íntimas, assumem também necessariamente expressões comunitárias e públicas.

Valongo é uma terra muito ligada às suas tradições e a nível paroquial muitas são avivadas e dinamizadas, umas mais ligadas ao culto, outras à cultura e ao lazer. A nível religioso salientam-se duas grandes festas: a Festa de S. Mamede que se realiza no dia da memória Iitúrgica do santo (17 de Agosto) com procissão, pelas ruas da cidade de todos os titulares das capelas de Valongo e a festa da Procissão do Senhor dos Passos que se realiza, no quarto domingo da Quaresma.

À comunidade, com o valor patrimonial que possui, corresponde, por um lado, o dever de conservação do património passado, por outro, e a urgência criadora de patrimónios actuais a transmitir ao futuro, a fim de que não se interrompa esta sequência de autênticas tradições intergeracionais, ao serviço da fé e da história.

Na vida das comunidades devemos ter uma atitude respeitadora do passado, e sobremaneira solícita pelo futuro. Na verdade, é instrumento de vida: com o espírito de desprendimento que o Evangelho nos inculca, saibamos ser administradores fiéis, utilizando bem, para glória de Deus, promoção do homem e crescimento da fé, os valores e as maravilhas que a Igreja nos confiou e à Igreja do futuro queremos entregar.
Constrída em 1813, a atual capela do Senhor do Calvário ou Nosso Senhor da Restauração, substitui uma outra que existiu no antigo lugar da Valga, num monte com o nome do Calvário.

Mandada edificar por João Monteiro da Maia aquando das invasões francesas, por promessa, se Valongo não fosse atingido pela terceira invasão.

Ampliada e restaurada em 1871 com o apoio de valonguenses emigrados no Brasil, possui, no interior, imagens do séc. XVIII, Cristo Crucificado, São Roque e de São Francisco.

Existiu até meados do séc. XX, junto desta ermida, uma via sacra, com 3 cruzes invocando a Crucificação de Cristo. No seu átrio, ajardinado, existe um nicho dedicado à Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Em 2013, esta ermida foi requalificada.

A festa religiosa realizou-se até há poucos anos, no último domingo de agosto.
Data de 1794 o início da construção da igreja matriz, erigida no local ocupado pela antiga, demolida por se encontrar em mau estado de conservação. Emoldurada pela serra, levou mais de meio século a concluir. A portaria do governo que autorizava a sua edificação vem assinada por D. João VI e data de 1793. No tempo das invasões francesas serviu de quartel-general às tropas invasoras.

A sagração da igreja com celebração da primeira missa foi a 20 de Setembro de 1823. Em 1837 a sua sacristia serve as primeiras reuniões camarárias do novo concelho de Valongo. Contribuíram para a construção desta igreja, as monjas do Mosteiro de S. Bento de Avé Maria do Porto e o produto do labor dos padeiros de Valongo.

As suas paredes, com mais de dois séculos já passados e apesar da sua altura superior a vinte metros ainda mantêm todo o seu prumo e alinhamento. O corpo central é coroado por um frontão triangular com a imagem de S. Mamede complementada com quatro paineis de azulejos, representativos da vida do santo, que ladeiam as torres sineiras. O amplo pórtico de forma retangular é todo ele rematado em cantaria e encimado por três amplos janelões sendo o central ornamentado por azulejo com as armas de S. Pedro.
Edificada no último quarto de séc. XVIII e dedicada a Santa Eufêmia no lugar da “aldeia do Susão”. No seu interior encontramos um altar de estilo barroco nacional, mais antigo que a própria capela, o que permite afirmar ser um dos altares da primitiva igreja matriz de Valongo, demolida pouco depois da construção desta.

Serviu durante anos como local de enterramento até à proibição por ordens do governo, em setembro de 1844. Em 1969, é ereta nesta capela a Confraria de Nossa Senhora da Saúde, devoção esta que tinha já substituído a anterior.

Com o aumento populacional, constrói-se uma nova capela em 1974. Curiosamente, esteve iminente a demolição da velha ermida, ideia essa, expressa no projeto da nova. Contemporâneas da capela velha, encontramos, na sua proximidade, um conjunto de cruzes em granito e um túmulo representativo das estações da via sacra.
Pequena ermida implantada na extremidade norte de Valongo, dedicada a um dos santos com grande devoção na proteção das pestes: São Bartolomeu.

Construída sobre uma ara romana, dedicada ao Deus Alboco, visível na fachada sul. A dedicação a São Bartolomeu, aliada à sua fama de santo protetor das pestes, explica a construção desta ermida num lugar pouco habitado.

Documentos do séc. XVIII referem grande “concurso de gentes” vindas de Alfena, Valongo e paróquias vizinhas, no dia 24 de agosto, que sucede até hoje.

São frequentes os pedidos de intercessão ao santo, para combater problemas de pele, usando para isso, o atributo que a imagem barroca de São Bartolomeu ostenta na mão direita: uma faca, elemento identificativo do seu martírio, cena ilustrada na tela do altar, da autoria de Domingos Loureiro. No exterior, o pequeno púlpito era utilizado para a realização do sermão, no dia de festa e no domingo seguinte.
Datada de 1729, a capela do Senhor dos Passos de Valongo foi mandada construir por José de Mesquita, homem abastado de Fânzeres, para expurgar os males cometidos à esposa motivados por ciúme que se veio a provar infundado.

A Confraria do Senhor dos Passos, ereta em Valongo no ano de 1710, regista nos seus estatutos iniciais a intenção de construir a capela com a representação de um Calvário, que ainda hoje encontramos na parte superior do retábulo com a representação de Cristo Crucificado ladeado pela mãe, S. João Evangelista e ainda por vários soldados romanos.
Na parte inferior do retábulo, dividida em três nichos, ao centro, a imagem do Senhor dos Passos acompanhado pela figura da N. Sr.ª da Soledade e por uma figura do Ecce Homo são datadas de finais do séc. XVIII.
Data de 1625 a capela de Nossa Senhora dos Chãos, advogada dos navegantes. Diz a história que vindo certos navios no mar, se levantou uma grande tempestade e que, em perigo de naufragar, os navegantes chamaram pela Virgem Maria que os terá protegido.

Como pagamento deste milagre, os mareantes construíram uma pequena ermida no cimo da serra de Valongo a expensas de Tomé António, um navegante de Campanhã.

De arquitectura simples, foi ampliada, em altura, no séc. XX. No seu interior, destaca-se o mais antigo retábulo de Valongo, de linguagem maneirista e com pinturas dedicadas à Virgem Maria.

A sua festa realiza-se no primeiro domingo de setembro.

Neste dia, a imagem de nossa Senhora dos Chãos sai da igreja matriz em procissão, num andor com formato de barco, em direcção à capela.
Referenciada em 1640, no catálogo dos Bispos do Porto, a devoção a Santa Justa no cume da serra de Cucamacuca ou de Santa Justa, é de tempos imemoriais.

A sua implantação dever-se-á a um acto de afirmação dos cristãos sobre os romanos, já que estes, durante séculos, aqui fizeram a exploração de ouro.

Não será por acaso que Santa Justa e Santa Rufina escolhidas para titulares da capela, eram cidadãs romanas que, após se converterem ao Cristianismo, partiram imagens dos deuses romanos que até então vendiam.

No séc. XVIII, acorriam vários devotos pedindo protecção contra as “malinas e dores de dentes”.

Esta ermida, implantada num lugar de excelente contemplação de paisagem, sofreu alterações e ampliações ao longo dos tempos, sendo o edifício actual dos anos 30 do séc. XX.

A sua festa religiosa é celebrada no penúltimo domingo do mês de Julho.
Referenciada em 1610 no catálogo dos Bispos do Porto, já existia em 1580 com o nome de Senhora da Luz. Ocupando o centro da praça D. Luís I (atual praça Machado dos Santos), foi reedificada na sua atual localização, satisfazendo as necessidades urbanísticas de Valongo, em 1878.

Com dedicação a Nossa Senhora da Neves, tem festa litúrgica a 5 de agosto, o dia em que por intercessão da Virgem, nevou em Roma, em pleno verão. De planta retangular, com 20 m de comprimento, tem no seu interior, para além da imagem da titular, um conjunto de imaginária religiosa de grande valor: Nossa Senhora da Boa Morte, Santa Ana, São Joaquim, São José, Santa Apolónia e Santo António com a caridosa instituição do Pão dos Pobres.

Integra o caminho da imponente procissão dos Passos.
Diz a tradição popular que esta capela terá sido a primeira igreja de Valongo e dedicada a Santo Antão. Santo Antão era conhecido, no passado, como Santo António Abade, um santo com grande devoção na época medieval.

Com o aumento da devoção mariana, a titular da capela passa a ser Nossa Senhora da Hora, devoção relacionada com o apego das parturientes por uma boa hora, na altura do parto, ou ainda para o momento da morte.

Documentação do séc. XVII refere propriedade particular. No seu interior encontra-se um altar neo-clássico e a imagem da titular acompanhada por São Simão e São Gonçalo.

A festa litúrgica realiza-se em meados do mês de Maio.